DOSSIÊ SOBRE A BOLÍVIA

Juventudes Libertárias

 

NOSSA APRESENTAÇÃO

As Juventudes Libertárias são um coletivo anarco-comunista que atua no território sob domínio do Estado boliviano, formado por jovens trabalhadores e universitários do sul do país. Os membros do coletivo vêm basicamente de duas organizações: o Núcleo de Ação Direta Anarquista e a União Revolucionária de Universitários Socialistas, que desapareceram devido à repressão policial e às intrigas da esquerda autoritária. O coletivo atua nas universidades e fábricas da região.

Ao pensar sobre as derrotas do movimento operário na América Latina, depois de décadas de revoltas abortadas, sufocadas ou institucionalizadas, vemos que a maior parte delas foi esmagada pelas ditaduras militares, com o apoio incondicional dos EUA e das empresas transnacionais. Mas não podemos esquecer do papel que a esquerda do capital, em qualquer das suas formas, vem desempenhado nesse processo. Esta é uma das questões que @s compas das Juventudes Libertárias colocam. A partir de sua experiência recente, el@s afirmam algo central para a luta d@s proletarizad@s do mundo inteiro: para derrotar os capitalistas que nos exploram e que têm sua propriedade garantida pelo Estado, temos de enfrentar os seus lacaios, os burocratas dos sindicatos e partidos de esquerda, com suas estratégias que positivam o mercado e o Estado: cooperativas, orçamentos participativos, parlamentos, comissões, eleições, fóruns, negociações, etc; mecanismos os quais, na maior parte das vezes, cumprem melhor as metas do Banco Mundial e os interesses das grandes corporações do que a direita do capital.@s proletarizad@s sob o Estado boliviano têm enfrentado, há décadas, os sucessivos golpes da esquerda do capital sobre suas experiências de luta, no mais das vezes, combatendo no limite das suas forças, com as formas de ação direta e insurreição, as tentativas de apaziguamento da luta.

Publicamos aqui algumas das correspondências enviadas pelas Juventudes Libertárias, que trazem informações de como estão os conflitos de classe na Bolívia, particularmente dados sobre as revoltas que explodiram desde o ano passado e que contribuíram para a recente renuncia do ditador Banzer. Tais conflitos não se resolveram ainda, é óbvio, pois as questões aí presentes (entre elas, a da resistência das culturas e povos que se mantêm vivos, mesmo depois dos 500 anos de ocupação do território pela cultura ocidental e as farsas que surgiram a partir dela, os Estados nacionais) põem em cheque a própria essência do mercado e do Estado.É anticapitalista a luta insurrecional d@s proletarizad@s sob o Estado boliviano e, como tal, depende, para a sua vitória, da possibilidade da sua internacionalização.

@s proletarizad@s do mundo inteiro temos que ficar atentos para essas questões pois é do fortalecimento dos nossos laços de luta e solidariedade que construiremos a possibilidade de uma sociedade sem mercado nem Estado.

A nossa troca de emails nos últimos meses, nos foi bastante instrutiva sobre a realidade das lutas no Estado boliviano. Perguntamos às/aos companher@s sobre suas posições acerca da reivindicação, que aparece no texto abaixo, "pela liberdade de comércio das folhas de coca"; ao que nos responderam que não defendiam o mercado, muito pelo contrário: não são prodhonian@s, mas anarco-comunistas. Essa reivindicação não é deles, mas dos camponenes e indígenas, que têm na plantação de coca uma cultura milenar; eles a defendem contra toda a repressão do Estado boliviano, cumpliciado pelos EUA e as transnacionais. Apesar de não compartilhamos com a totalidade daquilo que é exposto – ao menos não na forma como foi colocado – pel@s compas das Juventudes Libertárias, por exemplo, quanto ao uso positivo de conceitos como Nação ou a referência à luta d@s indígenas como "busca de um lugar na história, no desenvolvimento", consideramos contudo que tais divergências – que bem podem ser apenas divergências na expressão – em absoluto comprometem a convergência radical que temos com @s compas na afirmação da luta anticapitalista e anti-hierárquica. É exatamente nessa medida que aqui socializamos suas as reflexões – escritas, aliás, a nosso pedido – sobre a experiência de luta d@s proletarizad@s sob o Estado boliviano.

 

O que acontece na Bolívia?

(31/12/2000)

A Bolívia é um dos países que menos atenção recebe em âmbito mundial. Isolada, pobre sem protagonismo notável nos processos diplomático-comerciais da atualidade, tende a passar despercebida nos textos acadêmicos e jornalísticos. É um país enorme e potencialmente rico, que ocupa um espaço equivalente aos territórios da Espanha e França juntos. A Bolívia é um caso clássico do desenvolvimento desigual e combinado. É um dos países mais pobres e atrasados do hemisfério ocidental, com a renda per capta mais baixa do continente; quase metade da população é analfabeta. É o país latino-americano com a maior população indígena: mais de 50 % fala quechua ou aymara. O campesinato constitui mais de 60% da nação. Não obstante, e no dizer de muitos, a combativa classe operária boliviana tem sido politicamente a mais consciente do continente.

Tem sido um país monoprodutor por excelência, primeiro de prata, depois do estanho e recentemente participa da economia mundial em parte como fonte de matéria prima para a cocaína, pretexto para as intervenções da burguesia norte-americana em sua suposta "guerra contra as drogas".

Sem dúvida a história boliviana está cheia de negações que mereciam ser exploradas pelos que buscam entender os processos sociais do continente. É o país americano com maior presença indígena. O movimento operário local tem sido tradicionalmente de enorme combatividade e suas reivindicações têm sido consideradas as mais radicais no espectro americano, o proletariado boliviano, no dizer de muitos, é uma classe dotada do melhor sentido histórico do continente. O país foi cenário de lutas operárias de grande alcance, é o único país do hemisfério onde já aconteceu algo parecido com uma vitoriosa insurreição operária. Em 1952 milícias operárias e camponesas, destruíram o exercito da oligarquia local, enxotando os barões do estanho de suas mansões palacianas; porém essa insurreição foi castrada pelos nacionalistas burgueses.

Os partidos bolcheviques ligados a "progressistas" burgueses nunca conseguiram domesticar o movimento operário combativo, ainda que o boicotassem; como em 1971 quando operários, camponeses e estudantes formaram a Assembléia Popular, uma espécie de conselhos de trabalhadores nos quais primava a democracia direta e que puseram ao então presidente Torrez diante da constituição de um poder dual. Os reformistas e os bolcheviques de sempre abortaram a revolução social, ao depositar esperança suicida no governo "progressista" de Torrez e não armar o povo.Conseguindo com isso, dar abertura ao sangrento golpe de estado fascista de Banzer, financiado pela CIA, a ditadura brasileira e o narcotráfico.

Uma greve geral quase insurrecional aconteceu em 1985, quando 12.000 mineiros do estanho, apetrechados de dinamite e apoiados em grande parte do povo, ocuparam a sede do governo, em La Paz, por 16 dias, exigindo o fim do sistema capitalista e a instauração de um "governo operário e camponês", a falta de clareza estratégica e a sabotagem da esquerda autoritária, conseguiram derrotar a greve. Depois dessa derrota infame, se reduziu o número de mineiros da empresa estatal a COMIBOL de 32.000 em 1986 para 60 hoje em dia. Os demais foram tirados do altiplano e forçados a cultivar coca para sobreviver. Enquanto isso, o então presidente Sanchez e sua família compraram as minas mais lucrativas para encher seus bolsos. Atualmente a mineração privada emprega cerca de 4.000 operários que têm medo de atuar, devido à draconiana precarização do trabalho, na qual as demissões, diante a qualquer sinal de descontentamento são freqüentes.

Diante desta conjuntura na qual a burocracia sindical se prostitui com o oficialismo, e uma vez que não tem qualquer credito de nenhum setor proletário; a iniciativa popular e a infinita capacidade criadora das massas têm dado vida a organizações de base muito mais democráticas e combativas do que a necrosada Central Obrera Boliviana (COB), sindicato verticalista que agrupa tod@s @s trabalhador@s. Que foi substituída na prática, pelo autodenominado bloco intersindical formados por professores rurais, camponeses, gremiais e transportadores do altiplano. Mas essa não seria a única organização de base que deu resultados.

Em abril de 2000, Cochabamba foi o epicentro de um tremendo revés que sofreu o ex-ditador e atual presidente "democrático" general Banzer. Grandes massas se mobilizaram contra a privatização da água, bloqueando com barricadas as estradas, organizando piquetes, que enfrentaram e repeliram os ataques das forças armadas. A mobilização do povo tomou o controle de povoados inteiros, criando uma organização de base, a Coordenadoria pela Àgua e pela Vida (plataforma dos operários e camponeses) infiltrada com um ou outro elemento partidário, que foi desconsiderado. Rapidamente o exemplo se estendeu por todo o país, fazendo tremer o regime de Banzer, que não hesitou em encher de cadáveres e feridos as ruas. Mas nisso entraram em greve os policiais, exigindo melhoras salariais. O povo, generoso, se solidarizou a-criticamente com a greve da policia, sem entender seu conteúdo oportunista. Prova disso, foi que bastou um compromisso do governo em aumentar seus salários que os policiais acabaram a greve.

Foram os camponeses os maiores protagonistas das ações de setembro do ano passado, quando um grande bloqueio de estradas paralisou quase todo o país. Os centros urbanos quase foram asfixiados por uma sublevação camponesa. É o atraso e a miséria do país, que se sublevaram, encarnados na revolta dos camponeses, contra um regime racista que os condena a tal situação. É a rebelião de uma massa de marginalizados e discriminados que lutam para se incorporar ao desenvolvimento, ocupar um lugar na história da humanidade. Ação destacável do movimento camponês foi a denuncia da discriminação e opressão contra as nações indígenas, tocando em uma das chagas mais podres e perversas da sociedade burguesa em que vivemos. A minoria brancóide, discriminadora e opressora das nações indígenas majoritárias, não podia dar crédito à atitude "insolente" do movimento. Que, além disso, apesar de muitas intentonas caudilhistas, se guiou pela tradição pré-incaica do ayllu, estrutura organizativa que prioriza a democracia direta. Não foi raro contemplar assembléias com mais de 25.000 camponeses que decidiam que rumos deveria tomar o movimento.

A opressão nacional sobre as maiorias indígenas é um problema atual que por mais de 500 anos se mantêm sem solução. O capitalismo chegou à Bolívia como uma força invasora sob a pressão do imperialismo, para determinar uma economia de caráter combinado na qual coexistem formas de produção capitalistas em determinados setores da economia e formas pré-capitalistas de produção, que permanecem em atraso. A grande maioria indígena permanece encravada no pré-capitalismo.

Como ensina a história dos próprios levantes camponeses, que são pano de fundo da luta de classes no nosso país, para triunfar o levante camponês deve ligar-se à perspectiva da luta da classe operária das cidades: a destruição da grande propriedade privada burguesa e a instauração da propriedade social dos produtores livremente organizados e federados.

Os partidos da esquerda reformista desapareceram do cenário político. Os camponeses sublevados taparam a boca dos que anunciavam o fim da história. Apesar do estado de sítio ditado, as massas não retrocederam e formaram comitês de autodefesa, não hesitando em cobrar as vidas a mais de meia dezena de policiais e militares. A rigor, o único sitiado terminou sendo o governo. A mobilização de setembro teve um grande mérito, não só de expressar as necessidades de todos, mas a de generalizar-se. Quer dizer, de chamar ao conflito a todos os setores e golpear com um só punho. O campo e as cidades tentaram unir seus esforços na luta. @s explorad@s e oprimid@s se esmeraram em tomar seus problemas em suas mãos e resolvê-los. Só que tropeçaram com a falta de uma clara estratégia revolucionária e o papel de apaga-incêndio d@s reformistas.

O movimento anarquista raquítico e desorganizado, timidamente participou das ações. As iniciativas populares que o anarquismo teoriza, mais que nunca tomaram vida. A escassa participação em parte se deve à reticência d@s velh@s anarquistas em tomar contato com novas gerações e ao sectarismo de alguns coletivos.

Os dirigentes sindicais, com seu democratismo e vassalagem aos partidos burgueses arrastaram a COB e o movimento operário à passividade, não surpreendendo sua ausência. As burocracias sindicais são os encarregados mais diretos de manter o status quo da elite privilegiada. A esquerda reformista desarmou politicamente o movimento mineiro e os universitários. Os trotskistas não duvidaram em semear a ilusão suicida em uma fictícia oficialidade militar progressista, a mesma que disparou a queima-roupa n@s trabalhador@s e encheu os caminhos de cadáveres, chegando inclusive a metralhar, de dentro dos aviões militares, os manifestantes, com um saldo de 30 assassinados e mais de uma centena de feridos. No corpo de oficiais, se guardam tradições seculares de servidão para o povo. Deve partir-se, dissolver-se, ser esmagado em seu conjunto. O exercito já demonstrou ser inimigo d@s explorad@s em todo tempo e lugar. Não surpreende a política colaboracionista de Trotski.

Se a heróica e sacrificada luta d@s explorad@s se frustrou parcialmente, foi devido a ação personalista do dirigente dos camponeses do altiplano, Felipe Quispe, que fez acordos com o governo em separado para determinados setores. Abandonando os cultivadores de coca, que também sofreram com o reformismo de seu dirigente Evo Morales; e outros como os "sem-terra" que ainda continuam na luta. Com isso, os demais setores dos trabalhadores perderam força. A explosão social ficou no empate, o governo devido sua debilidade não pode sufocar com sangue a avalanche dos trabalhadores, mas fez concessões, retoques às leis burguesas. O empate não supõe que os explorados vão retroceder ou que vão se dissolver, mas simplesmente que podem voltar a atacar, porque aí está o estímulo de lutar contra a miséria e a própria repressão.

Na atualidade, fins de dezembro, nada pode por em duvida a rejeição ao governo, por ser incapaz de resolver os problemas nacionais e sociais e por ser imoral ao extremo. Isto sem duvida evidencia o acirramento da luta de classes. O governo de Banzar é fraco, a rebelião popular está presente nas ruas e os protestos continuam contra as conseqüências desastrosas das crises do capitalismo, que na Bolívia se concretiza na rejeição categórica contra a política econômica neoliberal e as multinacionais. É notável que as massas culpem o governo de Banzer por todas as calamidades que enfrenta o país. Qualquer que seja as medidas prejudiciais do Estado, o povo se apressa em apontar como seus autores o imperialismo burguês norte-americano e a burguesia nativa.

Agora o governo se vangloria de ter acabado com todas as plantações de coca, deixando na rua milhares de camponeses e cocaleiros. Com isso a classe dominante acertou rudes golpes contra a cultura, economia e o futuro dos trabalhadores, contando com a cumplicidade dos burocratas sindicais, corruptos e imbecis. Porém enquanto os criminosos festejam o trabalho da esquerda, levantamos nossa bandeira que diz: livre cultivo, comercialização e industrialização da coca.

Há hoje milhares de gremiais para impedir que o prefeito da maior cidade da Bolívia leve adiante seu projeto de não permitir a "venda de ruas" nos bairros mais "decentes" Os alteños, realizam manifestações buscando a expulsão das multinacionais que lucram com a água e a eletricidade. O povo de Oruro está mobilizado para impedir a venda às multinacionais da fundição de Vinto. Desempregados de empresas estatais ocupadas estão resistindo à polícia, reclamando que não tem porque desocupar e que a empresa é deles. Enquanto isso, cocaleiros e camponeses do altiplano ameaçam com medidas de fato para os primeiros meses do ano 2001. Amiúdam-se outras demandas sobre diversos problemas da vida cotidiana.Isto quer dizer que a convulsão social está a ponto de explodir em uma investida não só contra o governo, mas também contra todo sistema político tradicional em seu conjunto, parlamento, oposição, etc. O caminho do Estado burguês se afunda de vez. Um governo sem respaldo social que não sabe o que fazer.

Os acontecimentos dramáticos da Bolívia têm uma importância que é muito desproporcional à marginalidade econômica e estratégica do país; que tem fronteiras com o Chile, Brasil e Argentina, onde os pesados batalhões da classe operária sul-americana estão se agitando. Enquanto toda a América Latina reclama sob a alta dívida externa e sofre o açoite da "austeridade" imposta pelos bancos, uma revolução na Bolívia, poderia acender o pavio da "bomba da dívida". A experiência deste ano nos mostrou a radicalização das lutas que não se via há muito tempo, passando a evidenciar frontalmente a luta de classes, despojando-a do aspecto solapado no qual freqüentemente se apresenta. É aqui onde falta a agitação de um programa anarquista que se ultrapasse as reivindicações e chegue a propostas verdadeiramente revolucionárias, que seja capaz de levar a luta às suas conseqüências lógicas. É dever do anarquismo local e mundial, responder à altura das circunstâncias.

Pela autogestão operária das nossas empresas, pelo livre cultivo, comercialização e industrialização da folha da coca, pela terra para os que nela trabalham, contra a privatização da água que é vida para os camponeses, pelo direito à educação, à saúde e o trabalho para todos, pela abolição da propriedade privada e até o comunismo libertário:

Viva a rebelião dos explorados! Morra a burguesia incapaz! Fora governo Fascista!

Avante os que lutam!

 

Bolívia: frente de batalha anticapitalista

(29/04/2001)

A convulsão social que a Bolívia viveu essa semana tem causas que não têm sido resolvidas há muitos anos e que estão se aprofundando.

Milhares de homens, mulheres, anciões e crianças se lançam às ruas, às estradas exigindo direitos, pão, teto, educação e justiça; marcharam com os dentes cerrados porque a situação é de caos absoluto e completa desesperança. A revolta é geral: Milhares de desempregados sem nenhuma esperança de futuro, a educação alcançou seu piores níveis; a escassa produção está quase estancada, sem fontes de financiamento. O Estado manejado com uma improvisação desesperante, a insalubridade em uma escala nunca vista antes. O povo faminto recorre a ação direta e começou a tomar o destino em suas mãos.

Estes dias ninguém dorme tranqüilo neste país. O governo corrupto cambaleia diante da colossal crise política, econômica e social que se abateu como uma praga sinistra e que ameaça não só encurtar o período de governo do ex-ditador, mas também destruir o atual Estado como o conhecemos.

Na segunda-feira 9 de abril deste ano um grupo de mais de 1000 pessoas iniciou uma caminhada partindo de Cochabamba rumo à Cidade de La Paz (a aproximadamente 500 km de distância). A mobilização foi convocada pela Coordenadoria de Mobilização Unica Nacional (COMUNAL).

Compõem a nova coordenadoria de representantes da Confederação Única de Trabalhadores Camponeses da Bolívia, a Confederação de Colonos da Bolivia, a Confederação de Trabalhadores Autônomos, a Coordenadoria de Água e da vida de Cochabamba, a Federação de professores, a Federação Nacional de Mulheres Camponesas Bartolina Sisa, o Conselho de Federações camponesas dos Yungas, o Conselho de Suyus Quechuas; Aymaras e as seis Federações dos trópicos de Cochabamba.

A COMUNAL elaborou para a marcha denominada "Pela vida e soberania" uma extensa plataforma de demandas que recolhe reivindicações de todos os setores que a compõe. Exigem a modificação das leis vigentes em benefício dos setores desfavorecidos do país: indígenas, colonos, etc. A respeito da coca exigem a suspensão da erradicação dos arbustos de coca em Yungas e La Paz (zonas de cultivo tradicional) e se opõem à construção de quartéis e bases militares nos Yungas e no resto do país. Mas, entre suas reivindicações mais revolucionarias está a anulação do decreto 21060, que impôs o neoliberalismo na Bolívia, e a lei de capitalização, que privatizou todas as empresas estatais. Além disso, se exige o fim dos processos penais contra sindicalistas e a liberdade para os presos, o cancelamento de 20 milhões de dólares de 30.000 pequenos devedores de bancos e financeiras, a investigação de fortunas e a luta contra a corrupção, melhores salários, etc.

O governo ordenou seis intervenções de tipo policial-militar em 14 dias de marcha sem conseguir frear a mobilização que, sem interromper o tráfego de veículos marchou mais de 400 km, em uma clara violação ao direito de locomoção e expressão o governo reprimiu brutalmente, o que obrigou os manifestantes a desviar o bloqueio policial pelas montanhas, rios e caminhos incertos.

Centenas foram @s detid@s, torturd@s pelo exército e a policia, ainda assim, a marcha chegou a La Paz entre saudações e aplausos d@s vilarejos vizinh@s que se somaram aos operários, camponeses, estudantes, professores e gremiais, etc. em seu caminho ao centro da cidade onde se pretendia realizar uma Assembléia popular que determinaria o início do bloqueio nacional das estradas, além de ter a responsabilidade de exigir a mudança do modelo econômico para buscar não só reivindicações sociais, mas impor também decisões políticas. O regime em uma demonstração de sua natureza fascista, ditatorial e narcocracista reprimiu duramente mostrando-se igualmente duro diante da multidão debilitada e esgotada por uma marcha forçosa que durou vários dias. O resultado foi o assassinato de um trabalhador e de uma anciã e pancadaria generalizada. O ministro do governo, em um ato oficial, concedeu aos militares e policiais carta branca para matar, assegurando-lhes impunidade total diante de qualquer denuncia contra eles.

Diante disso a C.O.M.U.N.A.L. iniciou o bloqueio de estradas das zonas produtoras de coca e a partir de 1° de maio bloqueio generalizado. Por sua parte, a Central Obrera Boliviana convocou uma greve geral por tempo indeterminado, também a partir de 1° de maio.

Os setores em luta não são poucos e vão desde a combativa organização nacional de devedores, que agrupa cerca de 30.000 devedores minúsculos que vem tentando queimar os bancos e exigem o cancelamento das dívidas até os aposentados, que desde há 4 dias, 250 deles iniciaram uma greve de fome; passando pelos professores que desde o dia 3 de maio entraram em greve em defesa da educação publica ou os transportadores que projetam greves escalonadas. O sentimento dos trabalhadores em geral é de total repudio ao atual sistema econômico e aos partidos políticos, um rechaço à democracia burguesa e um pedido generalizado pela saída do atual presidente General Banzar que nos anos 70 e com o apoio do governo norte-americano encabeçou uma feroz ditadura que assassinou a centenas e exilou, torturou e prendeu a milhares. Nos quatro anos de governo "democrático" o mesmo Banzar e seu regime já assassinaram com suas forças de repressão a mais de meia centena de ativistas e feriu gravemente outras centenas.

A situação se torna grave e a classe trabalhadora guarda completo ceticismo em qualquer liderança e tem escorraçado as burocracias sindicais, que para não ficar para trás radicalizaram seu discurso. Sem dúvida, a ação direta é já familiar para os setores em luta e deixarão escapar a vitória facilmente.

A dividida liderança campesina se destaca pela demagogia de seu comportamento, aí temos Felipe Quispe -"El Mallku"- que promete entrar triunfante no palácio do governo dentro de 90 dias para proclamar "o primeiro Estado indígena do continente". Mas, ao mesmo tempo faz o jogo do governo ao pronunciar um discurso ambíguo e boicotar as mobilizações de outros setores, além de ser acusado de trabalhar para o governo. O outro dirigente camponês Evo Morales, parlamentar e reformista que pressionado por suas bases muda de discurso num esforço de ganhar créditos para sua pessoa. Ambos líderes mantêm antagonismos pessoais irreconciliáveis, mas se irmanam na política oportunista e autoritária que levam.

O movimento anarquista local desorganizado é parte das mobilizações, mas ainda é muito fraco para permear suas idéias e práticas à classe trabalhadora, mas é destacável por sua dedicação e compromisso. O regime burguês se afunda, a classe dominante se esgotou totalmente e apodrece no meio da corrupção fazendo-se mais e mais dependente do imperialismo que transformou a Bolívia em sua propriedade. As massas já não podem tolerar as condições de miséria extrema a que a crise estrutural capitalista as condena. As massas deram as costas para a farsa democrática burguesa, as palhaçadas eleitorais dos politiqueiros só lhes causa mais indignação e raiva. No horizonte aponta o fantasma da insurreição popular que traz em suas entranhas a possibilidade de revolução social que acabe com o regime burguês.

O governo de Banzar tem o apoio do regime norte-americano, por isso duvidou na hora de militarizar o país e se prepara para causar um banho de sangue operário e camponês. Chamamos a solidariedade internacional, porque a luta d@s trabalhdor@s Bolivian@s é a luta d@s trabalhador@s do mundo, enfrentamos o mesmo inimigo: o Capitalismo e seus Estados. É urgente divulgar as lutas da Bolívia, a contra-informação, os atos de repudio nas embaixadas bolivianas do mundo inteiro. Só o olhar atento da classe trabalhadora internacional poderá deter o genocídio que a burguesia pretende realizar na Bolívia.

Viva à greve geral! Livre cultivo da folha da coca! Viva os trabalhadores do mundo! À revolução social... abaixo Banzer, carrasco! Acabar com o Capital e seu Estado! A libertação dos trabalhadores só será obra del@s mesm@s!

 

Burocracia sufoca mobilização popular boliviana

(15/05/2001)

 

Quando tudo apontava para uma autentica situação insurrecional que derrubaria o governo de Banzer, este fechou um acordo com a Central Obrera Boliviana (COB), apenas horas antes da chegada da marcha a pé de cerca de 4.000 operários em La Paz. Os quase 4000 trabalhadores, que percorreram 200 km nos últimos nove dias pela estrada do altiplano, entraram um pouco depois do meio dia no centro de La Paz.

A onda de conflitos recomeçou a cerca de um mês, quando os camponeses produtores de coca do Chapare iniciaram uma marcha para a sede do governo e depois bloquearam a estrada entre Santa Cruz e Cochabamba, para se opor à erradicação do cultivo dessa planta. A tensão cresceu devido à ameaça de bloqueio das estradas pela Confederação dos Campesinos que exigiam o cumprimento de suas reivindicações; a greve dos empregados da principal asseguradora médica estatal e pelo jejum voluntário de 3.500 aposentados que reclamavam o aumento de suas rendas. Na seqüência, o governo do presidente Banzer fechou acordos com todos setores, incluindo o sindicato dos transportadores que também realizou protestos contra o mau estado das estradas.

Durante o ano de 2000 uma mobilização semelhante estava a ponto de derrubar o governo Banzer e o atual sistema econômico, graças à ação direta d@s explorad@s, que livres da tutela burocrática construíram autenticas organizações de base que levaram a espontaneidade e a iniciativa popular a uma situação potencialmente revolucionaria. Entre as reivindicações dos múltiplos setores estava o fim do neoliberalismo capitalista e a expulsão das multinacionais. Um dos setores mais combativos foi o dos aposentados mineiros, que em centenas iniciaram uma greve de fome indefinida, que levou a vida de uma anciã. Sua determinação e tradição de luta determinou a conquista de seus objetivos.

Pressionada pela mobilização generalizada de mais de 35 setores de trabalhadores, a COB marcou a greve para 1° de maio, debilitada pela direção campesina, representada por Felipe Quispe " El Mallku", que em uma descarada manobra desconheceu as resoluções do congresso campesino que chamava a bloquear as estradas; em troca de dinheiro, El Mallku escreveu uma das paginas mais repugnantes da burocracia campesina. Ao fim, os burocratas venderam as mobilizações em troca de ninharias como o adiamento provisória da privatização das empresas que administram o correio e os aeroportos, o aumento dos salários, os serviços de educação e de saúde. Está claro que se trata só de uma suspensão momentânea, útil para desorganizar a classe trabalhadora. Cinismo notável é o ponto que indica que se submeterá ao estudo dos artigos do decreto 21.060, que implantou o modelo de livre mercado em 1985, relacionados com a livre contratação dos trabalhadores. Mesmo com o acordo feito com a COB, o governo enfrenta conflitos regionais como o das populações do sudeste do país, onde se levantaram barricadas que bloqueiam as estradas e a via férrea para a Argentina, exigindo a pavimentação desta estrada.

Também os pequenos devedores continuam suas mobilizações em várias cidades (com mais de 38 suicídios) para conseguir do setor financeiro o cancelamento de suas divida, mais de 7000 chegaram à cidade de La Paz e se mantêm em mobilização constante. Uma importante participação está tendo o coletivo anarquista Mujeres Creando, que tem introduzido suas práticas no movimento.

Hoje mais que nunca gritamos: Nenhuma confiança na burocracia!

Acusamos todos os dirigentes de colaboracionismo com o governo e de ditadura sobre as bases. Da pratica e da democracia direta que @s trabalhadores construíram espontaneamente, hoje restam apenas vestígios, situação provocada pela confusão e pela política conciliatória dos sindicatos verticalistas. A Coordenadoria da Água, organização de base que expulsou as multinacionais, e de latente potencial autogestionário, foi desfigurada nas mãos do neo-dogmatismo, assaltada por uma gangue de oportunistas de raiz bolchevique, que em conluio com a direita, dividem os lucros.

Enquanto isso, o dirigente dos campesinos, "El Mallku", cada vez se acha mais predestinado a emancipar o povo indígena por sua conta. Demagogicamente tem declarado que seu setor se mobiliza só e que quem o acusa de traidor será açoitado. Na verdade, a evidencia aponta para um suborno efetuado pelo governo.

A greve geral não foi convocada pela direção da COB sob um programa de saída operária para a crise e só se limitou a pressionar o governo para que ceda às reivindicações econômicas setoriais.

Deste modo, a burocracia abastarda a bandeira da greve geral que é uma das armas mais poderosas d@s explorad@s contra os capitalistas e a converte em uma medida de pressão para "convencer" ao governo da necessidade de dar algumas migalhas aos explorad@s.

Deste modo, a contradição entre a enorme disposição de luta dos trabalhadores das cidades e dos camponeses do interior, contrasta com a tibieza das listas de reivindicações levantadas pela burocracia.

Enquanto os trabalhadores e camponeses com bloqueios de caminhos, piquetes e manifestações resistiam à feroz repressão policial–militar e demonstraram na prática estar dispostos a ir até as últimas conseqüências em sua luta, a burocracia fazia gestões desesperadas nos corredores dos ministérios, buscando alguma migalha do governo que lhes permita justificar o fim da greve. Uma das maiores limitações da greve geral, além da restrita pauta de reivindicações e da desorganização deliberada imposta pela burocracia, foi a não adesão do proletariado industrial à mesma. A greve ficou reduzida fundamentalmente a trabalhadores de serviços e camponeses cocaleiros. As razões pelas quais os mineiros e petroleiros não participaram ativamente da greve geral respondem, em primeiro lugar, à própria política da COB de deixar desgastar as lutas por separado para fortalecer sua estratégia de conciliação, e em segundo lugar, o impacto que tem no proletariado o processo de colonização da Bolívia produzido em meados de 80.

Até a metade da década passada, os mineiros eram a primeira linha das lutas proletárias e tinham uma das tradições de luta mais potentes da América Latina. Porém a sucessão de derrotas pela ausência de uma estratégia revolucionaria abriu caminho para uma ofensiva do governo e dos patrões que lançaram uma política de profunda reestruturação do setor. A queda do preço do estanho levou ao fechamento das empresas agrupadas na Corporação Mineira da Bolívia (COMIBOL), jogando na rua mais de 90% de seus trabalhadores. Dezenas de milhares de mineiros foram reagrupando-se em cooperativas dividindo no trabalho a empreitada por conta própria.Hoje são escassas minas rentáveis e em geral, nas mesmas há um proletariado jovem e sem grande tradição de luta.

Hoje o setor proletário com maior peso na economia boliviana é o petroleiro e, em menor medida, os mineiros e operários vinculados à agroindústria.

Mas entre a consciente classe operária dos anos 80 e o proletariado petroleiro atual existem diferenças muito importantes. Os mineiros tinham décadas de tradição de luta, enquanto o proletariado petroleiro é relativamente jovem e sem grandes tradições de luta. Os novos operários pertencentes às minas rentáveis e outras industrias têm as mesmas limitações que os petroleiros. Além disso, trabalham em condições de maior precarização que as que tinham os mineiros da COMIBOL. Sobre estas condições, a burocracia da COB trabalha não para revertê-las, mas para cristalizá-las, justificando assim a divisão das lutas e favorecendo sua estratégia de conciliação.

A burocracia da COB nada fez para mobilizar os setores produtivos nem antes, nem depois da greve geral. Antes, quando aconteceu o fechamento das minas e empresas, não chamaram à ocupação das mesmas. Depois, aceitaram a precarização fabril pactuando a flexibilização com os governos de plantão. A tarefa número um, que está colocada é romper o "quarto intermédio" imposto pela burocracia e unificar todas as lutas relançando a greve geral mediante um documento único de reivindicações. Esta tarefa não será possível se ficar nas mãos da burocracia da COB que fundamenta sua estratégia na conciliação com o governo. É urgente organizar-se! Só as assembléias compostas por representantes de base devem ter poder de gestão, rechaçando toda prática delegacionista.

Para isso, é necessário que os setores mais dinâmicos dos trabalhadores e explorados (docentes, trabalhadores da área da saúde, camponeses e estudantes) se mobilizem para impor à COB a convocação de um congresso de representantes de base de todo o país que assuma a condução da luta, votando um programa operário e reconvocando a greve geral. Se todos os setores em luta se mobilizarem em torno da COB e derrotarem a burocracia, neste congresso baseado em assembléias em todos os sindicatos, será possível relançar a greve geral com perspectivas de vitória. Se, ao contrário, o destino da luta permanecer nas mãos da burocracia, só o que nos espera será o desgaste e novas derrotas. A efervescência está presente nas ruas, é fruto da espantosa miséria e a absoluta incredulidade no sistema vigente e sua burguesia. O governo subserviente às multinacionais será incapaz de cumprir seus compromissos, a repressão e a demagogia impõe às massas decretar a batalha definitiva.

Os dirigentes camponeses e operários se apóiam na conciliação, têm evitado por todos os meios organizar a greve geral como uma arma que sirva realmente para derrotar o governo e impor as reivindicações dos explorados. São indignos da mobilização da classe trabalhadora disposta a lutar. Os burocratas só nos levaram à fome e a banhos de sangue. Devemos nos armar contra a repressão policial, confiar em nossas forças. Pressionar para dialogar não tem sentido, a burguesia e @s trabalhador@s temos interesses antagônicos. Devemos construir a autogestão acabando com o capitalismo imperialista.

Pela autogestão dos trabalhadores, ao comunismo anárquico!

Viva a revolução social!

Bolívia: atacam aos trabalhadores bolivianos com tanques e tropas

(07/07/2001)

A ofensiva dos trabalhadores bolivianos não dá trégua ao governo que, desesperadamente tenta sair dos conflitos retrocedendo diante das demandas dos distintos setores, mas pretendendo deixar de pé o essencial de sua política. Os explorados não crêem em uma palavra do governo nem nos chamados de pacificação da igreja para iludir o povo produtor.

A experiência e a consciência mostram que os trabalhadores estão a cada dia mais decididos a destruir completamente a política capitalista burguesa imperialista e se orientam para buscar uma solução revolucionária para seus problemas. A ação direta se impõe, enquanto o silêncio das informações ignora os sucessos da Bolívia. Destacamos a solidariedade dos que lutam. Em 11 de julho a CNT em Madri, protestou em frente à embaixada boliviana, um fato semelhante aconteceu em Paris, organizado por um lado pela Federação Anarquista Francesa e por outro pela alternativa libertária.

Bloqueios: altiplano de La Paz ocupado por tropas e tanques

Tanques do exército boliviano tem sido deslocados nas estradas do altiplano paceño, chegaram até a população de Achacachi, onde camponeses Aymaras tem seu quartel general e se encontram prontos para atacar. Só se espera uma ordem. Durante setembro de 2000, os militares realizaram um massacre no mesmo lugar.

Um franco clima de guerra se vive nas regiões áridas, que desde há duas semanas tem sido cenário de um bloqueio de estrada realizado pel@s campones@s Aymara, que exigem basicamente terras e o fim do neoliberalismo. Há uma semana o exército ocupou essa região assassinando dois camponeses. Convocou-se todo o campesinato boliviano para uma assembléia de emergência em 9 de julho, na qual se analisará o rumo que tomaram daí em diante os bloqueios parciais de estradas.

Em Huarina uma camponesa explicou que se vive um estado de tensão, já que os soldados continuam vigiando os passantes e exigem os documentos para cruzar e os registram. Em Achacachi, os camponeses comunicaram que estão dispostos a manter o bloqueio de estrada por 90 dias, e que até o momento não houve escassez de alimentação porque se organizaram a provisão de alimentos com antecedência ao bloqueio.

Enquanto o governo fala em diálogo, os camponeses denunciam múltiplas detenções respaldadas pela presença massiva de carros de assalto e tanques, além de tropas militares aparelhadas com munição de guerra. "Mudaremos de estratégia para que os militares não reajam. Criaremos novas formas de luta para que sejamos atendidos", disse Quispe, secretário geral da Confederação dos camponeses. "Nós só estamos olhando. Os militares nos apontam as metralhadoras amedrontando os camponeses. Tomaram as escolas em Huarina e Guaque e também detiveram os dirigentes" acrescentou. O exército conta com ordens para detenção de todo dirigente sindical.

Mineiros armados ocupam minas

Mais de uma centena de mineiros do enxofre, enfurecidos e armados de dinamite, fizeram uma insurreição na mina "TH-1", situada próximo da localidade boliviana de "Abaroa", a cinco km da fronteira com a República do Chile.

Misael Mamani Choque (25 anos), que fazia parte dos manifestantes, perdeu o braço direito ao manipular uma carga de dinamite que devia ser lançada no acampamento. Existem vários feridos e a polícia pediu reforços. Não possuímos mais informações a respeito, mas segundo a polícia esse seria um conflito entre particulares.

Libertam os presos, mas recrutam repressão

Na segunda-feira, 2 de julho, centenas de pequenos devedores ocuparam um edifício bancário armados de dinamite, gasolina e molotov, retendo 60 burocratas. Exigiam o cancelamento total de suas dívidas, acusando o banco de usura. A participação de anarquistas feministas foi vital para o desenrolar dos acontecimentos. Depois das negociações liberou-se os retidos e se abandonou o edifício, desconhecendo os acordos, o governo desenvolveu brutais cercos policiais prendendo cerca de 70 ativistas. Depois de manifestações nas ruas aparentemente tod@s @s detid@s foram liberad@s. Mas o governo prepara uma forma legal para prender a tod@s.

O acordo conseguido contempla sanções para as instituições que cometeram abusos contra os pequenos devedores, conciliações de contas, investigação dos casos de usura, reconhecimento das anarquistas como facilitadoras das negociações, gestões do banco ante o governo para a suspensão de ações judiciais, etc. Durante três meses, seis mil devedores se mobilizaram em La Paz exigindo o cancelamento de suas dívidas que vão de 100 a 5.000 dólares por pessoa. A sequia, a descomunal crise econômica e a manifesta usura fizeram estas dívidas impagáveis.

O movimento de pequenos devedores é composto por pessoas pobres, trabalhadores e camponeses em sua maioria, representam mais de 12.000 famílias, que tem sido objeto da usura dos bancos aos quais tem pago o capital emprestado assim como os juros, porém agora estão exigindo o pagamento de juros sobre os juros, usura pura e dura.

Quase meia centena de pais de famílias e inclusive famílias inteiras se suicidaram por não poder solucionar o problema de suas dívidas com as financeiras.Uma vez retiradas as medidas de pressão, os bancos tentam desconhecer os acordos e o governo prender a centenas. @s pequen@s devedores tem anunciado resistência e centenas têm feito trincheiras na Universidade de La Paz, se negando a sair por medo da repressão.

Presos se sacrificam e já não querem nem beber água

Uma greve de fome, desde 6 dias, de aproximadamente quatro mil presos se complicou ao extremo desde que um grupo de mulheres, três delas com seus filhos, se sacrificou ao limite e outros já não querem beber nem água.

O Estado tem processado penalmente a cidadãos, em sua maioria pobres, os encarcerando por anos debaixo de um pretexto de culpabilidade, tem permitido que a corrupção seja a regra da justiça, tem feito dos cárceres do país lugares nefastos onde cotidianamente se atropelam os mais básicos direitos humanos e constitucionais, as draconianas leis anti-narcotráfico tem prendido milhares que, desesperados pela crise econômica, se viram obrigados a participar do transporte da droga, o governo os prende enquanto rende honras aos chefes do narcotráfico.

@s pres@s exigem indulto, melhores condições de vida e o fim da dispersão. No presídio de Palmasola de Santa Cruz, mais de três mil presos participam da greve de fome que começou faz seis dias. Não bebem nenhum líquido. Na penitenciária de San Sebastián de Cochabamba (setor feminino), um grupo de presas chegou ao limite para sacrificar-se, algumas com filhos, outras grávidas. As grevistas são mais de 300. A partir de hoje costurarão os lábios. Na cidade de Tarija explodiu também um conflito no cárcere com 800 grevistas.

Nazistas asseguram ter se reunido "privadamente" em la paz

O segundo encontro ideológico internacional de nacionalidade e socialismo, se realizou "privadamente na cidade de La Paz de 1 a 5 de julho", aprovando um documento de 5 pontos. Na reunião, segundo um comunicado da imprensa, participaram representantes da corrente nazista da Bolívia, Equador, Colômbia, Chile e Peru que acordaram que formariam uma ONG, que "vele pelos interesses dos distintos movimentos baseados nas noções de nacionalidade e socialismo na América do Sul e no mundo". Na legislação boliviana não existe menção alguma ao nazismo, porém, sem dúvida, a Bolívia tem padecido com brutais ditaduras militares que tiveram como acessores criminosos nazistas do porte de Klaus Barbie e mercenários fascistas italianos.

O atual governo de direita é presidido pelo sanguinário General Banzer que dirigiu um regime de terror nos anos 70 e hoje graças a uma aliança eleitoral governa um regime sanguinário de terror que tem enchido o país de cadáveres de lutadores sociais.

Presidente boliviano à beira da morte

O sanguinário General Banzer se encontra hospitalizado em Washington, EUA. Segundo informações extra-oficiais foi diagnosticado câncer generalizado e ainda que o governo se empenhe em negar, ele estaria à beira da morte. Indubitavelmente, isso debilitaria o Estado, potencializando a luta d@s explorad@s.

 

Avante os que lutam, autogestão, ação direta, revolução!

 

 

Bolívia: caiu o tirano!

(07/08/2001)

 

Durante o transcurso deste ano uma revolta geral quase obriga o presidente Banzer a renunciar, porém finalmente foi a enfermidade que o obrigou, hoje 6 de agosto, a renunciar. Vai entre vitores dos corvos da igreja, os imperialistas, a burguesia nacional e o cinismo dos políticos da esquerda e direita. Mas a História sempre o assinala como o gorila, fascista, assassino e narcotraficante que sempre foi.

O homem que encabeçou o golpe militar de 21 agosto de 1971 e assassinou, encarcerou e perseguiu. O genocida de Tolata e Epizana, o que entregou os recursos naturais ao endividamento externo, o que destruiu as empresas do Estado, as minas e o petróleo, o que tentou vender a Amazônia boliviana aos racistas sul-africanos para que estabelecessem uma república branca, o que contrabandeava gasolina para o Paraguai trocando-a por Whisky. O que chegou a vender sangue humano indígena ao Canadá. O general que é dono da Pepsi-cola argentina. O homem que participava de autênticas orgias sexuais com Pinochet.

O das frases célebres, como aquela que pronunciou após o massacre de 74: "a vocês irmãos camponeses, vou dar-lhes uma bandeira como líder. O primeiro comunista que chegue ao campo, eu os autorizo, me responsabilizo, podem matá-lo. Se o trouxerem aqui para que ele se entenda comigo pessoalmente, lhes darei uma recompensa". O general que conquistou em gloriosa batalha o território livre da Universidade Paceña, bombardeando-a com aviões e tanques. O homem que pisoteou com tacões de ferro a classe trabalhadora boliviana durante sete anos de ditadura que foi derrubada pela greve de fome das mulheres mineiras.

O homem que mandou assassinar todo ativista político que denunciasse seu regime. Os dados levantados pelas organizações de direitos humanos mostram que, no mínimo 300 foram executados, 200 desaparecidos, entre 1971 e 1978; 14750 pessoas encarceradas por "ofensas ao regime"; 19140 foram obrigadas a sair do país; a imprensa foi reprimida: 68 jornalistas exilados, 32 presos, 20 emissoras sofreram intervenção; os sindicatos colocados na ilegalidade; as universidades fechadas.

Mas, ao general estas coisas nem ferem, o sangue escorre de suas mãos. Se converteu no paladino da democracia amparando-se nos políticos de esquerda e direita e no imperialismo norte-americano. Todos se conluiaram dando um cheque em branco ao general, que mudou seu uniforme de Fuhrer pelo de pacífico avô civil da democracia e o ungiram presidente em 1997. Quatro anos de terror garantidos pelo capitalismo internacional, quatro anos nos quais a classe trabalhadora se negou a contemplar impávida a infâmia cometida, quatro anos de morte em que se reeditou a vocação sanguinária do general e seus cúmplices norte-americanos. O saldo é de mais de meia centena de trabalhadores assassinados nas ruas e nos campos, assassinados por exigir liberdade, igualdade; covardemente tocaiados por franco-atiradores e aviões de guerra. Centenas de exilados em regiões inóspitas, centenas de feridos a bala, tornados inválidos por toda a vida. Até o último dia o tirano reprimiu a toda a oposição, como é o caso de oito jovens encarcerados hoje por recordar ao tirano seus méritos.

O regime dos anos 90 foi marcado pela corrupção, fato que motivou a ONG Transparência Internacional, a classificar a Bolívia, no ano de 1997, como o segundo Estado mais corrupto do mundo e em 2001 como o mais corrupto do hemisfério. Mas o gorila Banzer não apareceu do nada, nos anos 70 seus apoios foram o imperialismo norte-americano, o vaticano, a ditadura brasileira e a burguesia nacional. O banzerato compartilhou as mesmas características do denominado "modelo do cone sul" caracterizado pela proibição das atividades sindicais, por um Estado-quartel autoritário, pela exaltação belicosa do cristianismo ocidental e do nacionalismo e por sistemas corporativistas de organização social. A repressão foi generalizada e extraordinariamente cruel, a esquerda foi derrotada em escala regional, foi produzida a morte e desaparição de dezenas de milhares de pessoas.

Enquanto a burguesia internacional dá uma de democrata questionando os militares envolvidos no plano Condor, na Bolívia fomenta a ascensão do ditador e genocida General Banzer, temerosa de uma explosão social que leve a classe trabalhadora boliviana a converter-se em um autêntico exemplo de luta classista, anticapitalista e revolucionária.

Porém ele não deteve a intensa luta de classes que se vive na Bolívia. Estamos presenciando um movimento em ascenso, que acumula experiência de auto-organização e que segue preparando e capacitando suas bases tanto ideológicas como em táticas e estratégias militares.

O movimento camponês indígena está exercitando formas comunitárias, assembleárias, de democratização da sociedade e descolonização do Estado. São outras formas de fazer política que chocam com a politicagem e a hipocrisia tradicional dos partidos que estão habituados a cooptar os novos ativistas que surgem para mediatizá-los e submetê-los.

A renuncia de Banzer não muda nada, a não ser obrigar a sua família que tire as mãos do patrimônio e das finanças nacionais. A figura do novo presidente Jorge Quiroga Ramírez, com sua formação em universidades estadunidenses e sua trajetória política, o fazem um especialista produzido pelo Departamento de Estado norte-americano, por fim, um mutante do dinheiro, cínico e calculador.

Porque a cor do sangue jamais se esquece, os massacrados serão vingados!

Ao comunismo libertário!

Avante os que lutam, demolir o capitalismo e seu Estado!

 

 

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